terça-feira, 16 de novembro de 2010

Teoria Kantiana da Beleza Aplicada ao Desfile Hussein Chalayan S/S07 111



Sobre o Juízo do Conhecimento

   O desfile da coleção Spring Summer 2007 de Hussein Chalayan, de acordo com o designer, baseou-se na história da moda durante o os anos de vida da marca Swarovski, com quem se associou naquele ano com o intento de ajudar na celebração de seu 111°.  aniversário.

  Assim, para o juízo do conhecimento do desfile como visto por Kant, é preciso: haver um estudo da história da Moda desde 1895 (quando nasceu a Swarovski); conhecer a marca e seus produtos para compreender como eles influenciam na elaboração da coleção; conhecer o designer responsável pela produção e, idealmente, todos os outros responsáveis pelo resultado final da apresentação (cenógrafo, coreógrafo, maquiador etc.).

   Infelizmente, a informação sobre quais são os principais idealizadores do desfile é inacessível, o que deixa uma lacuna para que se pudesse formar o juízo do conhecimento completo. Podemos ainda, contudo, nos direcionar ao que temos acesso, que são, afinal, as informações mais importantes em relação ao tema em foco. 

   Já se falou sobre o designer em postagem anterior neste blog, sob o título “Crítica Estética A Partir Da Ótica Aristotélica E Platônica”. Pode-se adicionar à sua história, como fato relevante para esta postagem, que, em 2005, Hussein Chalayan começou sua colaboração com a marca Swarovski, com criações para a coleção Swarovski Crystal Palace Collection. Dessa coleção também participaram outros designers: Basso & Brooke, Jurgen Bey, Laurene & Constantin Boym,Naoto Fukasawa, Michael Gabellini, Ineke Hans, Simon Heijdens, Chris Levine, Ross Lovegrove, and Gaetano Pesce, Michael Anastassiades, Georg Baldele, Tord Boontje e Tom Dixon 

   A marca Swarovski foi germinada quando, em 1892, foram criados os cristais Swarovski a partir da invenção, por Daniel Swarovski, de uma máquina de corte automática. No ano de 1895, a companhia foi fundada no momento em que o criador abriu uma fábrica de cortes em Wattens.  A Swarovski tem um histórico, desde tempos remotos, de encontrar maneiras de inovar suas produções ao associar-se a estilistas famosos, designers e mesmo produtoras de computadores. Trabalhou com ícones de seus tempos como, por exemplo, Coco Chanel, Schiaparelli, Zaha Hadid e Philip Tracey.

Luminária de Zaha Hadid para Swarovski

   Atualmente, o grupo Swarovski possui também as empresas Tyrolit (produtora de abrasivos e máquinas de corte); Swareflex (refletores e sinais luminosos para estradas); Signity (pedras preciosas sintéticas); e Swarovski Optik (instrumentos óticos). Todas essas submarcas são utilizadas no corpo de produções em que Chalayan se associa à marca, onde explora os aspectos como a precisão do corte, o brilho e reflexo a partir de tecnologias disponíveis e novas tecnologias óticas.

  Para conhecimento da história da Moda, devem-se ler livros como: Moda do Século, de François Baudot, ou publicações afins, e assim ter-se uma visão dos principais elementos que definiram a moda em cada época em questão.

Sobre o Juízo do Agradável e o Juízo Estético

   O juízo estético não pode ser trabalhado porque, ao se assistir o desfile, se lida com muitos fins pré-dispostos, como a experiência do que conhecemos como roupa, como desfile, como modas relacionadas a décadas específicas etc. A experiência do desfile nunca será totalmente desvinculada de conceitos pré-estabelecidos e, assim, nunca uma experiência livre – algo essencial, segundo Kant, para se ter uma verdadeira experiência estética. Pode-se sim, no entanto, fazer um juízo do agradável, se, a partir dos estímulos sensoriais que o desfile propicia, tem-se reações agradáveis. Além do que é sensorialmente e subjetivamente agradável, pode-se usar de um conceito hereditário de nossa cultura Ocidental que faz parte da subjetividade ao se julgar se gostamos ou não de algo: definir se o designer obteve sucesso em atingir seu objetivo de expressar o que queria ao concluir sua apresentação.

    Vê-se então como a subjetividade do criador foi expressa no desfile, para tentar definir se os objetivos traçados foram alcançados.

   Apesar de o estilista dizer que se baseou na história da moda de forma não muito restrita, podem-se verificar, desde o início do desfile, claras referências da indumentária de cada época ao seguir uma certa linearidade para contar a história da moda. Isso é obtido com um ou dois visuais para representar cada década ou estilo apresentados em ordem cronológica a partir do fim do século XIX.
Inspiração Belle Époque

   O primeiro look usa o romantismo, o drapeado e os grandes chapéus vistos na Belle Époque. O segundo traz novamente o chapéu associado a uma grande capa representativa da Primeira Guerra Munidal, fato principal da história dos primeiros dez anos do século XX. Em seguida mostram-se vestidos bem curtos, com cortes retos e soltos do corpo, e cinturas rebaixadas, elementos da década de 1920. Da década de 1930 observa-se a infiltração das calças no vestuário feminino. Pode-se identificar a década de 1940 nos próximos dois visuais com o chapéu elaborado no primeiro e, tanto o drapeado nas laterais do decote que forma o decote coração, quanto a silhueta mais justa ao corpo do segundo look. A seguir, tem-se um look com a cintura bem marcada e saia godê representativos da década de 1950 e da popularização do New Look. 
Inspiração Anos 1950
Logo após, são desfilados vestidos com cortes gráficos que, como o brilho do segundo vestido, refletem elementos do futurismo dos anos 1960. No próximo vestido desfilado, encontram-se tecidos leves e soltos além da estampa que se assemelha a um floral, materiais que remetem à valorização da natureza presente no estilo Hippie dos anos 1970. Da mesma época, vem o raincoat prateado, com a modelagem inspirada em ícone destes anos e o brilho que representa a moda Disco, que o utilizava bastante em suas peças. Em seguida, apresenta-se um vestido curto que utiliza da modelagem bufante que se pode presenciar em diversas modelagens da década de 1980.  Na peça desfilada  a seguir, pode-se identificar um pouco do  minimalismo da década de 1990, como o corte simples da altura do busto para baixo e a modelagem seca com tecido liso.

  Seguem-se seis looks com referências múltiplas, todos apresentando transparências, sobreposições e fluidez. Representam, talvez, os seis anos de moda até o ano da coleção apresentada neste desfile, pois, em seguida, é apresentado um bloco de sete looks que incorporam a tecnologia da marca Swarovski utilizando materiais obtidos com as mais contemporâneas tecnologias da marca, provavelmente representando o ano de 2007 ao qual a coleção se dedica.

  O ápice da coleção está nos próximos seis vestidos que se modelam com a utilização de animatrônicos para capturar diferentes silhuetas de uma década de cada vez, incorporando cristais Swarovski de diferentes cores para refletir a história em evolução da marca.

  A fluidez do tempo é explorada em todo o desfile usando a relação da luz, das águas, dos cristais e da marcação de tempo. Testemunhamos inicialmente a presença de um relógio gigante na passarela de cristal Swarovski, que é utilizado como pano de fundo do desfile; o brilho na passarela reflete a iluminação suficiente mas não impositiva; a luz emitida do relógio; a fluidez dos tecidos translúcidos usados em praticamente toda a coleção; o efeito sonoro de ondas marítimas emitido em tempos espaçados durante o desfile; o efeito sonoro de cintilar irradiado no início da apresentação e as palmas - que compõem a maior parte da trilha sonora  - dão ao desfile a noção de tempo, orquestradas quase como um metrônomo; a maquiagem e cabelo simples, que se traduzem como a naturalidade humana, transmitem uma idéia de atemporalidade.

Relacionando os Paradoxos de Kant ao Desfile Hussein Chalayan SS/07

   A pertinência do Primeiro Paradoxo de Kant está no fato de se querer definir o desfile como belo e não se poder, pelo fato de esta consideração depender de uma conceituação do que é Beleza, e essa, para Kant, não ser possível.

   Para se definir se o Segundo Paradoxo de Kant é válido ao se analisar o desfile, depende-se de uma pesquisa mundial para se concluir se o desfile resulta - para todos os espectadores entrevistados - em uma compreensão da existência da beleza na apresentação. Se tal pesquisa se der como positiva, poder-se-á testemunhar o tal paradoxo, pois como seria a beleza vista por todos se ela é algo subjetivo?

  Como mencionado anteriormente, se quer julgar que o desfile é (ou não é) belo e convencer ou confirmar com todos os outros que assitiram o desfile. Porém, não se pode ter um julgamento estético, pois este depende de uma visão desinteressada e sem pré concepções, algo que não se pode ter – de acordo com Kant – por já se esperar (no mínimo) presenciar roupas e saber o que elas idealmente são. Eis aí o Terceiro Paradoxo de Kant . Dele também se vislumbra o Quarto Paradoxo de Kant: já se assiste o desfile à espera de algo. Há, portanto, um objetivo ao assisti-lo. A finalidade, existente na experiência que se desencadeia no prazer do sujeito, não pode ser desvinculada do fim, do objetivo. A experiência estética é então inexistente.

   Estudo do Fim e da Finalidade na Experiência do Desfile

     Qual a utilidade tirada do desfile? Conhecer moda, arte, o trabalho do designer, ter uma experiência agradável (etc.)? Todos esses objetivos, como qualquer coisa cobiçada ao se assistir o desfile, serão os fins para os quais o desfile será buscado. A finalidade poderá existir se, por hipótese, o desfile estiver acontecendo e alguém acabe por presenciá-lo por acaso, sem antes perceber que isto aconteceria. Assim, o possível prazer será a finalidade do desfile, algo germinado na própria experiência, não antes esperado.

Conclusão  

   O desfile de Hussein Chalayan para o verão e a primavera de 2007 destaca-se 
por conseguir passar o conceito objetivado, utilizando-se de inovações 
surpreendentes e agradar a muitos espectadores ao fazer uso de ícones da 
história da Moda.




   Veja o desfile completo em: http://www.dailymotion.com/video/xcozm6_hussein-chalayan-spring-2007-fashio_creation


Fontes:

SUASSUNA, Ariano. Iniciação à Estética. Rio de Janeiro: José Olympio, 2004. 

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