terça-feira, 23 de novembro de 2010

Estética Pós-Moderna/Contemporânea



  As características presentes na pós-modernidade que a definem esteticamente são a mutliplicidade de estilos, suas misturas e hibridações.

  Para a doutora Rahde, essa multiplicidade se consolidou com o advento das tecnologias de comunicação (como televisão, rádio e internete) que difundiram possibilidades plurais de contemplação e participação dos sujeitos.

  A estética visual pós-moderna cultiva a ambiguidade, a indefinição, a indeterminação, visando a ampliar ao máximo as suas possibilidades conotativas, o que resulta num caminho da liberdade da fundição entre o real e o imaginário, pois procura a participação ativa do espectador num jogo de interpretação.  Manifesta visualidades efêmeras e descartáveis, tolera a imperfeição, a imprecisão, a poluição, valoriza a comunicação e as emoções dos grupos e ironiza estereótipos visuais hegemônicos e banalizados da alta cultura.

  Os valores contemporâneos/pós-modernos refletem essas características estéticas: são os vividos anteriormente sobrepostos, re-lidos, reestruturados, decodificados utilizando-se da maior interação pessoal e subjetiva proposta pela atual lógica que tanto valoriza o sentimento.

   Ao contrário da modernidade - que buscava a linearidade das formas e do pensamento, a ciência, a pureza de uma arte pela arte - a pós-modernidade aceita praticamente todas as manifestações do imaginário humano.

   Esta realidade social de união entre tecnologia, epistemologia e o imaginário faz com que seja necessária uma apurada formação da sensibilidade para a possibilidade de um senso crítico que faça capaz a melhor apreensão deste mundo de diversidades. Por isso e pela inédita acessibilidade a inúmeras informações sensoriais, a estética passa a valorizar a qualidade e não mais a quantidade.

   As representações do sujeito pós-moderno são complexas e estão coadunadas com a sua instabilidade e flexibilidade, pois os artistas, espelhos das transições culturais, apresentam uma forte tendência pelas preferências individuais transitórias.

   A estética pós-moderna concorda com os pensamentos do filósofo Plotino que, já nos anos 270 D.C., defendia que Beleza dependeria da participação de uma ideia, não condicionada por dogmatismos (como simetria, proporcionalidade etc.) defendidos pelos teóricos.


Fonte:
RAHDE, Maria Beatriz Furtado. Considerações sobre uma estética contemporânea. 2007. 16 f. Pesquisa (Pós-graduação) - Curso de Comunicação, Puc Rs, Porto Alegre, 2007.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Teoria Kantiana da Beleza Aplicada ao Desfile Hussein Chalayan S/S07 111



Sobre o Juízo do Conhecimento

   O desfile da coleção Spring Summer 2007 de Hussein Chalayan, de acordo com o designer, baseou-se na história da moda durante o os anos de vida da marca Swarovski, com quem se associou naquele ano com o intento de ajudar na celebração de seu 111°.  aniversário.

  Assim, para o juízo do conhecimento do desfile como visto por Kant, é preciso: haver um estudo da história da Moda desde 1895 (quando nasceu a Swarovski); conhecer a marca e seus produtos para compreender como eles influenciam na elaboração da coleção; conhecer o designer responsável pela produção e, idealmente, todos os outros responsáveis pelo resultado final da apresentação (cenógrafo, coreógrafo, maquiador etc.).

   Infelizmente, a informação sobre quais são os principais idealizadores do desfile é inacessível, o que deixa uma lacuna para que se pudesse formar o juízo do conhecimento completo. Podemos ainda, contudo, nos direcionar ao que temos acesso, que são, afinal, as informações mais importantes em relação ao tema em foco. 

   Já se falou sobre o designer em postagem anterior neste blog, sob o título “Crítica Estética A Partir Da Ótica Aristotélica E Platônica”. Pode-se adicionar à sua história, como fato relevante para esta postagem, que, em 2005, Hussein Chalayan começou sua colaboração com a marca Swarovski, com criações para a coleção Swarovski Crystal Palace Collection. Dessa coleção também participaram outros designers: Basso & Brooke, Jurgen Bey, Laurene & Constantin Boym,Naoto Fukasawa, Michael Gabellini, Ineke Hans, Simon Heijdens, Chris Levine, Ross Lovegrove, and Gaetano Pesce, Michael Anastassiades, Georg Baldele, Tord Boontje e Tom Dixon 

   A marca Swarovski foi germinada quando, em 1892, foram criados os cristais Swarovski a partir da invenção, por Daniel Swarovski, de uma máquina de corte automática. No ano de 1895, a companhia foi fundada no momento em que o criador abriu uma fábrica de cortes em Wattens.  A Swarovski tem um histórico, desde tempos remotos, de encontrar maneiras de inovar suas produções ao associar-se a estilistas famosos, designers e mesmo produtoras de computadores. Trabalhou com ícones de seus tempos como, por exemplo, Coco Chanel, Schiaparelli, Zaha Hadid e Philip Tracey.

Luminária de Zaha Hadid para Swarovski

   Atualmente, o grupo Swarovski possui também as empresas Tyrolit (produtora de abrasivos e máquinas de corte); Swareflex (refletores e sinais luminosos para estradas); Signity (pedras preciosas sintéticas); e Swarovski Optik (instrumentos óticos). Todas essas submarcas são utilizadas no corpo de produções em que Chalayan se associa à marca, onde explora os aspectos como a precisão do corte, o brilho e reflexo a partir de tecnologias disponíveis e novas tecnologias óticas.

  Para conhecimento da história da Moda, devem-se ler livros como: Moda do Século, de François Baudot, ou publicações afins, e assim ter-se uma visão dos principais elementos que definiram a moda em cada época em questão.

Sobre o Juízo do Agradável e o Juízo Estético

   O juízo estético não pode ser trabalhado porque, ao se assistir o desfile, se lida com muitos fins pré-dispostos, como a experiência do que conhecemos como roupa, como desfile, como modas relacionadas a décadas específicas etc. A experiência do desfile nunca será totalmente desvinculada de conceitos pré-estabelecidos e, assim, nunca uma experiência livre – algo essencial, segundo Kant, para se ter uma verdadeira experiência estética. Pode-se sim, no entanto, fazer um juízo do agradável, se, a partir dos estímulos sensoriais que o desfile propicia, tem-se reações agradáveis. Além do que é sensorialmente e subjetivamente agradável, pode-se usar de um conceito hereditário de nossa cultura Ocidental que faz parte da subjetividade ao se julgar se gostamos ou não de algo: definir se o designer obteve sucesso em atingir seu objetivo de expressar o que queria ao concluir sua apresentação.

    Vê-se então como a subjetividade do criador foi expressa no desfile, para tentar definir se os objetivos traçados foram alcançados.

   Apesar de o estilista dizer que se baseou na história da moda de forma não muito restrita, podem-se verificar, desde o início do desfile, claras referências da indumentária de cada época ao seguir uma certa linearidade para contar a história da moda. Isso é obtido com um ou dois visuais para representar cada década ou estilo apresentados em ordem cronológica a partir do fim do século XIX.
Inspiração Belle Époque

   O primeiro look usa o romantismo, o drapeado e os grandes chapéus vistos na Belle Époque. O segundo traz novamente o chapéu associado a uma grande capa representativa da Primeira Guerra Munidal, fato principal da história dos primeiros dez anos do século XX. Em seguida mostram-se vestidos bem curtos, com cortes retos e soltos do corpo, e cinturas rebaixadas, elementos da década de 1920. Da década de 1930 observa-se a infiltração das calças no vestuário feminino. Pode-se identificar a década de 1940 nos próximos dois visuais com o chapéu elaborado no primeiro e, tanto o drapeado nas laterais do decote que forma o decote coração, quanto a silhueta mais justa ao corpo do segundo look. A seguir, tem-se um look com a cintura bem marcada e saia godê representativos da década de 1950 e da popularização do New Look. 
Inspiração Anos 1950
Logo após, são desfilados vestidos com cortes gráficos que, como o brilho do segundo vestido, refletem elementos do futurismo dos anos 1960. No próximo vestido desfilado, encontram-se tecidos leves e soltos além da estampa que se assemelha a um floral, materiais que remetem à valorização da natureza presente no estilo Hippie dos anos 1970. Da mesma época, vem o raincoat prateado, com a modelagem inspirada em ícone destes anos e o brilho que representa a moda Disco, que o utilizava bastante em suas peças. Em seguida, apresenta-se um vestido curto que utiliza da modelagem bufante que se pode presenciar em diversas modelagens da década de 1980.  Na peça desfilada  a seguir, pode-se identificar um pouco do  minimalismo da década de 1990, como o corte simples da altura do busto para baixo e a modelagem seca com tecido liso.

  Seguem-se seis looks com referências múltiplas, todos apresentando transparências, sobreposições e fluidez. Representam, talvez, os seis anos de moda até o ano da coleção apresentada neste desfile, pois, em seguida, é apresentado um bloco de sete looks que incorporam a tecnologia da marca Swarovski utilizando materiais obtidos com as mais contemporâneas tecnologias da marca, provavelmente representando o ano de 2007 ao qual a coleção se dedica.

  O ápice da coleção está nos próximos seis vestidos que se modelam com a utilização de animatrônicos para capturar diferentes silhuetas de uma década de cada vez, incorporando cristais Swarovski de diferentes cores para refletir a história em evolução da marca.

  A fluidez do tempo é explorada em todo o desfile usando a relação da luz, das águas, dos cristais e da marcação de tempo. Testemunhamos inicialmente a presença de um relógio gigante na passarela de cristal Swarovski, que é utilizado como pano de fundo do desfile; o brilho na passarela reflete a iluminação suficiente mas não impositiva; a luz emitida do relógio; a fluidez dos tecidos translúcidos usados em praticamente toda a coleção; o efeito sonoro de ondas marítimas emitido em tempos espaçados durante o desfile; o efeito sonoro de cintilar irradiado no início da apresentação e as palmas - que compõem a maior parte da trilha sonora  - dão ao desfile a noção de tempo, orquestradas quase como um metrônomo; a maquiagem e cabelo simples, que se traduzem como a naturalidade humana, transmitem uma idéia de atemporalidade.

Relacionando os Paradoxos de Kant ao Desfile Hussein Chalayan SS/07

   A pertinência do Primeiro Paradoxo de Kant está no fato de se querer definir o desfile como belo e não se poder, pelo fato de esta consideração depender de uma conceituação do que é Beleza, e essa, para Kant, não ser possível.

   Para se definir se o Segundo Paradoxo de Kant é válido ao se analisar o desfile, depende-se de uma pesquisa mundial para se concluir se o desfile resulta - para todos os espectadores entrevistados - em uma compreensão da existência da beleza na apresentação. Se tal pesquisa se der como positiva, poder-se-á testemunhar o tal paradoxo, pois como seria a beleza vista por todos se ela é algo subjetivo?

  Como mencionado anteriormente, se quer julgar que o desfile é (ou não é) belo e convencer ou confirmar com todos os outros que assitiram o desfile. Porém, não se pode ter um julgamento estético, pois este depende de uma visão desinteressada e sem pré concepções, algo que não se pode ter – de acordo com Kant – por já se esperar (no mínimo) presenciar roupas e saber o que elas idealmente são. Eis aí o Terceiro Paradoxo de Kant . Dele também se vislumbra o Quarto Paradoxo de Kant: já se assiste o desfile à espera de algo. Há, portanto, um objetivo ao assisti-lo. A finalidade, existente na experiência que se desencadeia no prazer do sujeito, não pode ser desvinculada do fim, do objetivo. A experiência estética é então inexistente.

   Estudo do Fim e da Finalidade na Experiência do Desfile

     Qual a utilidade tirada do desfile? Conhecer moda, arte, o trabalho do designer, ter uma experiência agradável (etc.)? Todos esses objetivos, como qualquer coisa cobiçada ao se assistir o desfile, serão os fins para os quais o desfile será buscado. A finalidade poderá existir se, por hipótese, o desfile estiver acontecendo e alguém acabe por presenciá-lo por acaso, sem antes perceber que isto aconteceria. Assim, o possível prazer será a finalidade do desfile, algo germinado na própria experiência, não antes esperado.

Conclusão  

   O desfile de Hussein Chalayan para o verão e a primavera de 2007 destaca-se 
por conseguir passar o conceito objetivado, utilizando-se de inovações 
surpreendentes e agradar a muitos espectadores ao fazer uso de ícones da 
história da Moda.




   Veja o desfile completo em: http://www.dailymotion.com/video/xcozm6_hussein-chalayan-spring-2007-fashio_creation


Fontes:

SUASSUNA, Ariano. Iniciação à Estética. Rio de Janeiro: José Olympio, 2004. 

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Resumo: Teoria Hegeliana da Beleza


   Hegel limitou-se  praticamente a aprofundar o pensamento de Schelling e tornou-se o maior pensador idealista do século XIX.
  Por ser idealista podemos traçar diversos paralelos em seu tarbalho com o pesamento paltônico. Podemos ver semelhanças nas seguintes afirmações: “a unidade da idéia e da aparência individual é a essência da Beleza e de sua produção na Arte” - de onde provém a definição da Beleza: "O infinito representado através do finito” ou  “ a idéia representada através do sensível”. Daí sua famosa afirmação: A Beleza se define como a manifestação sensível da Idéia.
   Para o pensador, como para Platão, ao homem cabe o trágico destino de construir uma ponte entre as coisas e o espiritual sendo a Arte, a Religião e a Filosofia são as etapas fundamentais no caminho de atingir o objetivo de comunhão com o Absoluto.
   Porém, Hegel afasta-se de Platão e de Schelling ao fazer distinção clara entre a Beleza e a Verdade. Ele afirma que a Verdade é a idéia enquanto considerada em si mesma, em seu princípio geral e pensada como tal. Porque não é sob a forma exterior e sensível que ela existe para a razão, mas em seu caráter de idéia universal. Quando a Verdade aparece imediatamente à consciência na ralidade exterior, e a ideia permanece no mundo metafísico, mas identificada e unida com sua aparência exterior se torna, não somente verdadeira, como bela.
   Hegel critica a visão kantiana da Beleza como algo de natureza não conceitual. Racionalista extremado dentro do seu idealismo, não aceita que a Beleza seja um “ universal sem conceito”, como queria Kant.


   Fonte:
   SUASSUNA, Ariano. Iniciação à Estética.